domingo, 8 de junho de 2008

Vigésima carta de amor

Theodore, meu doce amor canibal,
Dormi sobre seu peito
E acordei com a ausência.

Sempre que nos encontramos
É aquela trepada aflita.
Eu digo que sinto sua falta;
Você finge que já dormiu.

Desisti de mastigar o que sobrou
Do nosso amor estúpido.
Amei você tanto
Quanto odeio aquele cheiro
De água de vaso
Com flores mortas.

Some de manhã sem deixar bilhete
Nem dinheiro.

No parapeito da janela,
Cinzeiro cheio,
Vento torto,
Roupa no varal.
Unhas feitas
E tristes.

A gente não casou,
Mas eu te achava marido:
Dei a chave da porta,
Um copo e uma toalha.

Seu corpo em cima do meu
E a cabeça sempre em outras camas.

Foi por isso, Theodore,
Essa raiva arrancou meu juízo,
Enfiou força nas minhas mãos.


Tão longe que ninguém sabe.
Um prédio sem elevador,
Sem garagem, nem portaria.
Buraco qualquer.

A escada velha range por Theodore.

Maria

Com você
Eu casaria


Se não gostasse tanto
De pau.
Remendo palavras puídas
Porque as novas me parecem
Vazias.

Choveu

Sou clara
Mas viro graúna assanhada
Quando requebro
Na pele preta dele.

Depois da chupada
Ele chove
Garoa grossa nas minhas costas.

Ele tem tudo de mim
Na palma - branca - da mão.